Luanda
Números desencontrados no lixo do GPL

O novo governador
de Luanda, Bento Bento, que até ontem visitaria as instalações da Empresa de
Saneamento e Limpeza de Luanda (ELISAL) defendia que o valor da dívida para com
as firmas que limpam a cidade capital fosse revelado antes do fecho desta
edição, para que o seu pelouro efectuasse o respectivo pagamento ainda este ano.
A preocupação do governante foi manifestada no encontro que teve na
segunda-feira com alguns responsáveis da Elisal, com destaque para o engenheiro
Antas Miguel, director geral, e os representantes das mais de vinte empresas a
quem o Governo Provincial de Luanda deve a cada uma mais de seis meses de
pagamento pelos serviços prestados na capital.
No referido encontro, segundo apurou O PAÍS, o director-geral da ELISAL,
Antas Miguel, nivelou a dívida existente com as operadoras de limpeza em perto
de 72 milhões e 500 mil dólares norte-americanos.
O calote estaria relacionado ao meio ano em que aquela instituição afecta ao
Governo Provincial de Luanda não efectuou nenhum pagamento às 17 principais
organismos que realizam diariamente cuidam do saneamento da capital, assim como
a um número semelhante de pequenas firmas que actuam na periferia desta cidade.
Apesar do valor anunciado no dia da reunião, cerca de 72 milhões e 500 mil
dólares, o novo governador provincial de Luanda exigiu aos seus coadjutores, com
destaque para o vice-governador Manuel Catraio, que até anteontem apresentassem
um valor consensual que reflectisse na realidade a dívida existente.
Na edição deste jornal publicada no dia 18 de Novembro, empresários ligados
ao negócio do lixo acreditavam que o débito poderia estar avaliado em 90 milhões
de dólares norte-americanos, a julgar pelo calote que existe entre o Governo
Provincial de Luanda e as empresas que actuam no referido ramo na cidade
capital.
No encontro realizado pelo novo governador, Bento Bento, ficou-se a saber que
a instituição que ele herdou deve entre sete e oito milhões de dólares as
grandes empresas de limpeza da capital. Actualmente, segundo informações
avançadas na mesma reunião, actuam 17 grandes instituições. “É difícil
confirmarmos que a dívida está apenas nos 72 milhões e 500 mil dólares que eles
disseram. Temos que fazer muitas matemáticas para chegarmos a um número
realista, porque se tivermos em conta que eles devem a cada grande empresa entre
seis, sete e oito milhões de dólares, então poderemos concluir que o valor é
muito mais elevado do que imaginamos”, comentou um empresário do sector.
Uma fonte da ELISAL, entidade que supervisiona as restantes empresas,
assegurou que os valores pagos a cada uma não são semelhantes. O pagamento,
segundo ela, é feito de acordo com a capacidade operacional das firmas em causa
e a extensão da área de actuação. O representante da empresa SGO, que também
actua sector dos transportes públicos, confirmou que a dívida para com sua
instituição estava cifrada nos valores acima mencionado. Os mesmos valores foram
comprovados por outros empresários que compareceram no encontro em nome de
outras das 17 grandes empresas que actuam no negócio do lixo.
Nenhuma destas grandes instituições recebeu qualquer pagamento nos últimos
seis meses. A mesma situação ocorreu com as pequenas empresas, cujo número se
aproxima dos 20, segundo apurou-se no local.
Em declarações à imprensa, o director da ELISAL, Antas Miguel reconheceu a
existência de uma dívida, mas não avançou o montante, escudando-se no facto de
que um dado exacto só seria possível depois de um apurado exercício
contabilístico, que em princípio deveria culminar nesta quarta-feira, como o
próprio prometeu à Rádio Luanda.
Mas, posteriormente, Antas Miguel foi informado que essa informação seria
comunicada aos luandenses pelo vice-governador para a esfera económica, Miguel
Catraio. Antes mesmo do anúncio do valor exacto da dívida, Bento Bento avançara
que os pagamentos seriam honrados ainda no decorrer do presente ano, numa fase
em que o Governo Provincial de Luanda acaba de entrar para o sétimo mês sem
honrar os seus compromissos.
“ A situação é lastimosa para todos os empresários, porque as nossas empresas
encontram-se há mais de seis meses sem receber nenhum tostão das autoridades.
Mesmo assim continuamos a desenvolver o nosso trabalho, mas nem todos possuem
fundos nesta altura para poderem honrar com os salários dos seus trabalhadores”,
explicou outro empresário, alertando que os seus “funcionários encontram-se há
seis meses sem ordenados e ainda por cima temos de ver a questão do décimo
terceiro mês que já tinha de ser pago”.
Além da falta de dinheiro para os salários, as empresas garantem ainda que no
presente ano não puderam efectuar quaisquer investimentos. A isso acresce-se os
constantes gastos que as operadoras têm de efectuar durante a transportação dos
resíduos sólidos para o aterro dos Mulenvos por inoperância do posto de
transferência do Camama, inaugurado há pouco tempo.
Os gastos correntes apresentados pelas empresas esta semana consubstanciam-se
na reparação das viaturas, compras de pneus e combustível. Os dois primeiros
estão associados ao mau estado que apresentam algumas vias onde os carros de
lixo têm que percorrer diariamente para recolher os resíduos sólidos.